18 maio 2024

Ao companheiro espírita


Afirma Allan Kardec “que se reconhece o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as tendências inferiores”. 
Quem se transfigura por dentro, no entanto, pensa por si e quem raciocina por si desata as amarras dos preconceitos e escala renovações, no rumo do conhecimento superior pelas vias do espírito. 
É por isso que o raciocínio claro te arrancou ao ninho da sombra.
Não mais para nós o claustro nebuloso da fé petrificada em que se nos desenvolvia o entendimento, em multimilenária gestação. 
Cessou para nós a nutrição mental por endosmose, no bojo dos pensamentos convencionais. 
Todavia, porque te transferes incessantemente de nível, quase sempre, despertas no mais doloroso tipo de solidão – a solidão dos que trabalham no mundo, a benefício do mundo, mas desajustados no mundo, sem que o mundo os reconheça. 
Falas – e frequentemente, as tuas palavras voam sem eco. 
Ages – as tuas ações nobres sofrem, não raro, o menosprezo dos mais queridos. 
Emancipas a própria alma – escravizando-te a deveres maiores. 
Auxilias – desdenhado. 
Compreendes – confundido. 
Trabalhas – padecente. 
Edificas – por entre lágrimas. 
Consola – e vergastam-te os sentimentos. 
Cultivas o bem – e arrasam-te o campo. 
Urge perceber, porém, que quantos consomem as próprias energias, na exaltação do bem, se fazem clarão, e aos que se fazem clarão as sombras não mais oferecem lugar em meio delas. 
Segue, assim, trilha adiante, erguendo a luz para que as trevas não amortalhem, indefinidamente, os valores do espírito. 
Se temes a extensão das dificuldades, reflete na semente, a morrer em refúgio anônimo para que a vida se garanta; mas, se o exemplo de um ser pequenino te não satisfaz, medita no ensinamento do maior e mais glorioso espírito que já pisou caminhos terrestres. 
Ele também transitou, na estância dos homens, sem pouso certo. Para nascer, socorreu-se da hospitalidade dos animais; enquanto esteve diretamente no mundo, não reteve uma pedra em que resguardar a cabeça; transmitiu a sua mensagem libertadora em recintos de empréstimos e, em vista das sombras não lhe suportarem as eternas fulgurações, já que não poderiam devolvê-lo ao Céu e nem lhe desejavam a presença, junto delas, no chão, deram-se pressa em suspendê-lo na cruz, para que se extinguisse, entre um e outro. Ele, no entanto, não se agastou, de leve, e qual ocorre à semente que regressa da retorta escura a que foi relegada, convertendo abandono em pão redivivo, Jesus também, ao terceiro dia, contado sobre o desprezo extremo, voltou, em plenitude de amor, e ao transformar sacrifício em luz renascente, retomou a construção da concórdia e da fraternidade, na Terra, afirmando aos companheiros fracos e espantados: 
—“A paz seja convosco.”

Espírito Emmanuel, do livro Opinião Espírita. Página recebida por Chico Xavier. 

17 maio 2024

Praticar a caridade e cumprir o mandamento do amor ao próximo*


*Esta crônica mereceu um voto de louvor inserto em ata da Câmara dos Vereadores de Araraquara, a pedido dos então edis Célio Biller Teixeira e Flávio Thomaz de Aquino, que consideraram de “alto valor os ensinamentos na exposição do Irmão Saulo, pregando acima de tudo a liberdade de culto…”. Agradecendo aos vereadores, principalmente porque não eram eles espíritas, Herculano disse: “Essa compreensão humana, que supera os sectarismos exclusivistas do passado, é característica da civilização”. 
 
Conhece-se a árvore pelos frutos — O conceito cristão de Deus — A pele de ovelha e a pele humana. 

O conceito fundamental do Cristianismo é o da paternidade universal de Deus. Por isso é que Deus é único. Os muitos deuses da antiguidade, que dividiam ferozmente os homens, perdem o domínio do mundo, quando Jesus pronuncia a palavra Pai. Até mesmo Jeová, o deus dos exércitos, deixa o seu lugar ao Deus de Amor do Cristianismo. Os privilégios e divisionismos não têm mais razão de ser, diante da parábola do Bom Samaritano e do ensino de Jesus à mulher samaritana. 

O Espiritismo, surgindo na Terra em cumprimento à promessa do Consolador, para restabelecer a pureza do ensino de Jesus, restabelece o conceito cristão de Deus como Pai. Por isso Kardec ensinou, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que o nosso lema deve ser: “Fora da caridade não há salvação”. A bandeira sectarista das religiões apegadas ao velho exclusivismo é substituída pela bandeira cristã do “amai-vos uns aos outros”. 

Kardec chega mesmo a esclarecer que não devemos dizer: “Fora da verdade não há salvação”, porque cada qual interpretando a verdade a seu modo, esse lema serviria para perpetuar na Terra as lutas religiosas, que são a própria negação da religião. A caridade, pelo contrário, a todos une e a ninguém condena, como ensinou o apóstolo Paulo. 

Lemos, entretanto, num pequeno e agressivo artigo contra o Espiritismo, esta curiosa afirmação: 
“A pele de ovelha do espírita é a caridade. Fazer o bem e praticar a caridade.” O articulista entende que os espíritas fazem a caridade para perder as almas. São instrumentos do demônio, mas usam as armas do amor. Se ao menos fingissem que fazem a caridade, ainda se compreenderia. Mas não. Em vez de fingir, 
praticam mesmo a caridade e fazem o bem. E nisso está o seu terrível disfarce. Tanto mais terrível, quanto Jesus ensinou que só podemos conhecer a árvore pelos frutos. 

A preocupação do articulista transparece logo mais, quando ele acrescenta que os espíritas usam nomes de santos nos Centros, expõem imagens e fazem orações, para enganar os incautos. Quer dizer que tudo isso só teria uma finalidade: afastar os filhos de Deus do verdadeiro caminho. Acontece, porém, que os espíritas, ao darem nomes de santos a alguns Centros, têm apenas o propósito de homenagear espíritos elevados, que são conhecidos como santos. 

Por exemplo: Santo Agostinho e São Luiz deram comunicações a Kardec, que figuram em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Por que usaram o título de santo? Porque assim são conhecidos e só assim podiam se identificar. E somente por isso. Não obstante, os organismos dirigentes do movimento espírita são contrários a essas denominações para Centros, justamente para evitar-se a confusão em matéria de princípios religiosos. 

Quanto ao uso de imagens, é puro engano. Espíritas não usam imagens, como os cristãos primitivos não usavam. As imagens só aparecem em agrupamentos espiritistas humildes, de gente sem instrução, apegadas à religião popular que lhe ensinaram na infância. Também no Cristianismo primitivo acontecia isso. Cristãos novos apegavam-se aos ídolos pagãos, por costume e falta de esclarecimento. Mas, na proporção em que o Espiritismo for sendo compreendido, essa gente humilde abandonará as imagens. O Espiritismo ensina que devemos adorar a Deus em espírito e verdade, segundo a lição de Jesus à mulher samaritana.

No tocante à oração, é claro que os espíritas devem fazê-las. Kardec chegou mesmo a publicar um livro de preces. Como acontecia no Cristianismo primitivo, os espíritas repetem a prece do Pai Nosso, ensinada por Jesus, e sabem que a oração é o meio de se elevarem a Deus e se comunicarem com os Bons Espíritos. 

Não se trata, pois, de pele de ovelha, mas da própria pele humana. O homem é filho de Deus e deve dirigir-se a Ele. Kardec explica o sentimento religioso como lei natural, segundo vemos no capítulo sobre a “Lei da Adoração”, em “O Livro dos Espíritos”. O que acontece é que os espíritas aprenderam, no Evangelho, que devem orar de coração puro, sem nenhuma prevenção contra os seus irmãos. Porque Deus é Pai e todos são Seus filhos, seja qual for o caminho religioso que estejam seguindo. 

J. Herculano Pires, do livro O Homem Novo.

16 maio 2024

Marcos indeléveis


“As obras que eu faço, em nome de meu pai, essas testificam em mim.” – Jesus em João, 10: 25. 
Cada trecho do solo demonstra o seu valor na riqueza ou na fertilidade que apresenta… 
Cada vegetal é tido na importância de seu cerne, de sua essência, de seus frutos… 
Cada animal é conhecido pelas peculiaridades de importância em sua existência… 
O sol constitui para todos os seres fonte inexaurível de vida, calor e luz. 
A água significa o sangue do organismo terrestre. 
O fogo, no crepitar da lareira ou na devastação do incêndio, demonstra realmente 
o seu papel inconfundível no campo imenso da criação. 
O juiz é respeitado pela integridade de seus sentimentos ou temido pelas manifestações de venalidade a que se acolhe. 
O professor é acatado, consoante o grau de competência que lhe é próprio. 
O médico adquire confiança, conforme a sua atitude ao pé dos enfermos. 
O coração materno revela a sua íntima excelsitude, no trato natural com os rebentos de seu carinho. 
O filho oferece ao mundo, na experiência diária, a extensão de seu amor para com os próprios pais. 
A criança, em suas expressões infantis, apresenta invariavelmente o esboço de caráter que plasmou em si mesma através das vidas passadas. 
O usurário cria, em torno de si, gelada atmosfera de reprovação pelos sentimentos que nutre no imo do próprio ser. 
O leviano carrega consigo constantemente os prejuízos da ociosidade ou do vício, 
complicando-se na intemperança dos próprios dias. 
O céptico representa, onde estiver, a aridez da mente hipertrofiada pelo orgulho infeliz. 
O crente, leal a si mesmo, evidencia o poder de sua fé, nas posições assumidas perante os chamamentos do mundo. 
Enfim, todas as criações do excelso Pai testemunham-lhe a glória no campo infinito da vida e cada espírito se afirma bem ou mal, aproveitando-as para subir à luz ou delas abusando para descer às trevas. 
Como aprendizes do evangelho, portanto, cumpre-nos indagar à própria consciência: 
–“Que tenho executado na vida como aplicação das bênçãos de Deus?” 
Não nos esqueçamos, segundo a lição do senhor, que somente as obras que fizermos, em nome do pai, é que serão marcos indeléveis de nosso caminho, a testificarem de nós. 

Espírito Emmanuel, do livro O Espírito da Verdade, psicografado por Chico Xavier.

15 maio 2024

Nos caminhos de sempre


Nem sempre se te fará necessário fitar a retaguarda para reconhecer as vantagens da própria situação. 

Basta recordar os obstáculos que já venceste. 

Impossível não te lembres de certas ocasiões difíceis, no grupo doméstico, nas quais, sem esperar, conseguiste manter o próprio equilíbrio, a fim de auxiliar aos que se te ligam à existência. 

Fácil rememorar os momentos de azedume, dos quais a passagem do tempo te desligou para o retorno à tranquilidade. 

Perigos que te ameaçaram, desapareceram, sem que os vissem, no instante em que se entrecruzavam na estrada. 

Ocorrências infelizes que atravessaste foram muito mais advertências da vida ao teu senso de ponderação e serenidade que calamidades irreparáveis, conquanto, em alguns casos, provações inevitáveis se te emplacassem no contexto das próprias experiências. 

Preterições sofridas geraram várias conquistas de melhoria que atualmente desfrutas. 

Mudanças desagradáveis e compulsórias transformaram-se em degraus de acesso a facilidades que desconhecias, até então. 

Pessoas queridas, cujas tribulações lamentavas com ênfase, descartaram-se das sombras em que se envolviam, usufruindo agora alegrias com que talvez não contassem. 

Desgostos que tiveste, no curso dos quais guardavas a ideia de carregar pesados fardos de infortúnio, converteram-se em oportunidades de paz e renovação que presentemente bendizes. 

Pensa nos empecilhos que já deixaste à distância e concluirás que isso aconteceu porque não desertaste das próprias obrigações. 

Reflete nisso e reconhecerás que Deus, o infinito Amor, que te sustentou o ontem, de igual modo te sustentará também nos caminhos do sempre. 

Espírito Emmanuel, do livro Paz, psicografado por Chico Xavier.

14 maio 2024

Anotação em serviço


Corrigir-nos sim e sempre. 
Condenar-nos não. 
Valorizemos a vida pelo que a vida nos apresente de útil e belo, nobre e grande. 
Mero dever melhorar-nos, melhorando o próprio caminho, em regime de urgência, todavia, abstermo-nos do hábito de remexer inutilmente as próprias feridas, alargando-lhes a extensão. 
Somos Espíritos endividados de outras eras e, evidentemente, ainda não nos empenhamos, como é preciso, ao resgate de nossos débitos, no entanto, já reconhecemos as próprias contas com a disposição de extingui-las. 
Virtudes não possuímos, contudo, já não mais descambamos, conscientemente, para criminalidade e vingança, violência e crueldade. 
Não damos aos outros toda felicidade que lhes poderíamos propiciar, entretanto, voluntariamente, não mais cultivamos o gosto de perseguir ou injuriar seja a quem seja. 
Indiscutivelmente, não nos dedicamos, de todo, por enquanto, à prática do bem, como seria de desejar, todavia, já sabemos orar, solicitando à Divina Providência nos sustente o coração contra a queda no mal. 
Não conseguimos infundir confiança nos irmãos carecentes de fé, no entanto, já aprendemos a usar algum entendimento no auxílio a eles. 
Por agora, não logramos romper integralmente com as tendências infelizes que trazemos de existências passadas, mas já nos identificamos na condição de Espíritos inferiores, aceitando a obrigação de reeducar-nos. 
Servos dos servos que se vinculam aos obreiros do Senhor, na Seara do Senhor, busquemos esquecer-nos, a fim de trabalhar e servir. Para isso, recordemos as palavras do Apóstolo Paulo, nos versículos 9 e 10, do capítulo 15, de sua Primeira Carta aos Coríntios: — “Não sou digno de ser chamado apóstolo, mas pela graça de Deus, já sou o que sou.” 

Espírito Emmanuel, do livro Paz e Renovação, psicografado por Chico Xavier.